ATA DA TERCEIRA SESSÃO ESPECIAL DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 04.09.1991.

 


Aos quatro dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Terceira Sessão Especial da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a registrar o transcurso de um ano da descoberta da vala do Cemitério de Perus, em São Paulo. Às dez horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancadas que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Deputado Antonio Marango, Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado; Vereadores Lauro Hagemann e Adroaldo Correa, proponentes da Sessão e, na ocasião, Secretários “ad hoc”. Após, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da solenidade, registrando as presenças, no Plenário, do Vereador José Valdir, Presidente do Diretório Metropolitano do PT; Senhores Raul Carrion, da Executiva do PC do B; Álvaro Ayala, representando o Sindicato dos Eletricitários do Estado; Waldemar Marques, representando a Associação Comunitária da Vila São José; Glênio Argemi, representando o PSB; Hilário Pinha, Presidente Regional do PCB e Cláudio Gutierrez, do Comitê Brasileiro pela Anistia. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos proponentes da solenidade. O Vereador Adroaldo Correa discorreu sobre os objetivos deste ato, como resposta à solicitação dos setores democráticos, de registro concreto da importância do episódio da descoberta da vala do Cemitério de Perus. Reportou-se, também, a pronunciamento feito dia quinze de maio do corrente ano, acerca dos desaparecidos políticos do País. Discorreu, ainda, sobre os problemas enfrentados em sua atuação como jornalista durante o período da ditadura militar. O Vereador Lauro Hagemann declarou que a descoberta da vala do Cemitério de Perus leva a uma reflexão profunda sobre a história brasileira. Atentou para a necessidade da investigação e responsabilização dos crimes cometidos pela ditadura militar, salientando a existência, ainda hoje, de desaparecidos políticos. Lembrou os nomes dos companheiros comunistas que ainda se encontram desaparecidos, atentando para as novas formas hoje assumidas pela repressão política. Solicitou o acesso à população dos arquivos do DOPS. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Partidos e Lideranças políticas que quisessem se manifestar. O Deputado Antonio Marango ressaltou a importância desta Sessão, convidando a todos para reunião a ser mantida esta tarde, com o Governador do Estado, para solicitação de passagem, para o arquivo público, dos arquivos ainda existentes do DOPS. Ainda, convidou para Sessão a ser realizada, à noite, na Assembléia Legislativa, para assinalar a passagem da presente data. Finalizando, comentou a repressão política ainda hoje vigente no País. O Senhor Raul Carrion cumprimentou a Casa pela realização do presente ato, falando do grande número de integrantes do PC do B vítimas da repressão política. Destacou que tal repressão tem tido continuidade em nossos dias, atingindo principalmente a população mais marginalizada e os Líderes da classe trabalhadora. Analisou, ainda, a situação política, econômica e social observada hoje no mundo. O Senhor Glênio Argemi, classificando o período da ditadura militar como uma das “mais negras páginas da nossa história”, disse ser a presente Sessão motivada não pela vingança nem pelo ódio, mas pela necessidade de revisão e conscientização da nossa história. Discorreu, também, sobre a situação do socialismo na sociedade atual. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às onze horas e vinte e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária desta tarde, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Lauro Hagemann, este nos termos do artigo 11, § 3º do Regimento Interno, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Adroaldo Correa, Secretários “ad hoc”. Do que eu, Lauro Hagemann, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Estamos abrindo a 3ª Sessão Especial da 3ª Sessão Legislativa Ordinária, requerida pelo Ver. Lauro Hagemann e pelo Ver. Adroaldo Corrêa, no sentido de se marcar a lembrança da descoberta da vala do Cemitério de Perus um ano atrás. Na condição de Presidente do Legislativo Municipal, eu quero me permitir apenas ressaltar a importância que pessoalmente dou a este ato. No momento em que temos discursos e pressões absolutamente contrárias aos condicionamentos ideológicos que todos nós professamos, essenciais, e na medida em que enfrentamos uma série de dificuldades em relação à Administração Central do País, isto tenta diminuir a importância do episódio do ano passado, me parece que é extremamente significativo, para que não se repita, nós marcarmos esse episódio. E me permito lembrar, aqui, algo que me tocou muito anos atrás: eu me encontrava, casualmente, na Cidade de Pelotas, e na capa da revista IstoÉ, exatamente a descoberta se fizera, naquela semana, do local onde se encontrava enterrado como desconhecido, nome falso, o companheiro Luiz Eurico Lisboa. Foi meu colega de aula no Julinho, foi um amigo particular, a quem, inclusive, devo, pessoalmente, o fato de começar, naquela época do curso Clássico, a acompanhar mais de perto a atividade política. Eu me permitiria, com a lembrança do Luiz Eurico, abrir esta Sessão, que tem na Mesa, ainda, o Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, companheiro Deputado Antonio Marangon; tem a presença, entre outros companheiros aqui na Mesa, do companheiro Cláudio Gutierrez, que é do Comitê Brasileiro pela Anistia, que, ao longo dos anos mais difíceis da ditadura, teve um papel fundamental neste País; do companheiro Hilário Pinha, Presidente Regional do Partido Comunista Brasileiro; companheiro Glênio Argemi, representando aqui o Partido Socialista Brasileiro; companheiro Waldemar Marques, representando a Associação Comunitária da Vila São José; companheiro Álvaro Ayala, representando o Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul; companheiro Raul Carrion, da Executiva do Partido Comunista do Brasil; e o companheiro José Valdir, Vereador, Presidente do Diretório Metropolitano do Partido dos Trabalhadores. Além da presença dos Vereadores Gert Schinke e Adroaldo Corrêa. 

Inicialmente, passo a palavra ao Ver. Adroaldo Corrêa, que fará a sua manifestação.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente Antonio Hohlfeldt; Sr. Deputado Antonio Marangon, Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado; companheiros ilustres, nós, junto com o Ver. Lauro Hagemann, respondemos, na Câmara de Vereadores, a uma solicitação de camaradas nossos que têm tentado reconstituir a mobilização que já fizemos no País e também em Porto Alegre, da defesa do espaço da democracia. Por isso, convocamos esta pequena reunião, que estava prevista para ocorrer durante a tarde, mas que, por problemas internos da Câmara de Vereadores, que tinha outras atividades, aceitamos, para conformar com o conjunto das datas propostas, realizar pela manhã. Sabemos da dificuldade de horário, de participação das pessoas que gostaria de estar aqui, em função de outros compromissos, principalmente com o trabalho.

E o nosso entendimento, ao aceitar esta missão, era de que nos devíamos somar, objetivamente, no esforço de fazer soar bem alto o sentido da democracia para os trabalhadores. Foi sem a democracia que esse episódio da vala de Perus ocorreu; foi por falta da livre circulação das idéias e da possibilidade de ação política, que todos nós sabemos da importância, que esse episódio ocorreu, dramaticamente. E foi por sugestão de um dos militantes do Comitê Brasileiro pela Anistia, pelo que tanto lutamos no período anterior a 1979 para conquistar, que nós, a partir de maio deste ano, nos reengajamos nessa que é a luta principal da defesa da democracia no nosso País. O Keniger, que é conhecido de todos nós, que não está aqui porque está trabalhando na sua função de profissional, nos anunciou que ocorria em maio – e sempre se fez isso no Brasil nos períodos anteriores –, na última semana de maio ocorria no mundo inteiro um dia – ou uma semana, quem tivesse as condições objetivas para fazer – para marcar a existência, nos países em que isto ocorre, de desaparecidos políticos sob a responsabilidade do Estado. E nós, aqui na Câmara de Vereadores, no dia 28 de maio de 1991, fizemos um pronunciamento, dando reinício, neste ano de 1991, a uma luta que precisa ser permanente. Fizemos a leitura de 143 nomes de pessoas desaparecidas sob as condições de luta política contra o regime militar. E dizíamos na época e continuamos dizendo que são presos políticos sob a responsabilidade do Estado, que deve guardar o corpo e a mente das pessoas em condições de sanidade. E se o Estado as perdeu de paradeiro ou as perdeu da vida, deve responder por isso, porque o crime é imprescritível, é inafiançável, é um crime de lesa-humanidade.

E eram tantos os companheiros registrados nessa situação, por todas as vias, que lutaram, independente do modo de luta que definiram para enfrentar o regime militar. Hoje, há 25 ou 30 anos dessa luta, tida como modo equivocado. Mas, à época, como único modo possível, talvez, dentro da avaliação que se fazia, de denunciar a fome, a miséria, a submissão do Brasil aos interesses, primeiro, burgueses nacionais, e, depois, ao capital internacional associado a esses burgueses. Foi nessa perspectiva que o Estado os prendeu e os desapareceu.

A lista dos registrados nessas condições somava 140, 150 nomes, mas havia muitos mais que em outras condições foram mortos. O regime atribuiu a estes crimes a condição de crimes militares. Por isso, não processou, não encaminhou inquérito, não julgou: apenas fez desaparecer, por um período curto, dos anais da história do Brasil, o que só conseguiu porque impôs a censura, porque impôs a perseguição política a todos os demais que, no mínimo, tinham alguma curiosidade sobre o que acontecia aos demais e não só a respeito de si na sociedade da época.

Como jornalista, naquele período de 1974 a 1979 em que atuei na Rádio Continental, provavelmente a mais censurada desta Cidade, em função de que, como as outras, sofria censura, mas além das outras um pouco mais, ousassem publicar algumas coisas não censuradas, mas possíveis de publicar e que, depois, provavelmente por isso, publicadas, viessem a ser censuradas. Por causa da censura, não se repercutiu ainda mais a saga que ficou dolorosa, pungente, amarga entre tantos familiares de presos mortos e desaparecidos e que continuam desaparecidos até hoje. Nós, que de diversas formas lutamos contra isso, que temos um ideal maior do que a luta política, nós temos um ideal, a partir da luta política, de construção de uma sociedade de iguais, de respeito ao trabalho, de valorização das oportunidades para os indivíduos, sim, mas para o conjunto desses indivíduos, sem os privilégios da sociedade atual; uma sociedade que nós só concebemos de uma forma socialista e, portanto, ainda não construída, porque devemos lutar para que ela se constitua, que seja correspondente ao nível de organização do povo e que seja planificada do ponto de vista dos seus objetivos, respondendo a este conjunto organizado, mas que não prescinde da democracia em momento algum. Este é o maior ensinamento que tiramos de uma pessoa que hoje é acusada por muitos erros de seus seguidores. Vladimir Lênin disse isso na época da Revolução Russa ou um pouco antes: que a democracia só é imprescindível para os trabalhadores. E disso temos certeza, porque a burguesia já abriu mão dela em vários momentos, para cometer os crimes que cometeu, registrados na Vala de Perus, que, infelizmente, hoje, temos que marcar um ano de aniversário. Muito obrigado. (Palmas.)

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente Antonio Hohlfeldt, Deputado Antonio Marangon, representando a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado, prezados companheiros Raul Carrion, Hilário Pinha, Glênio Argemi, companheiro Ver. José Valdir, representando o Diretório Metropolitano do PT, companheiros Vereadores, o Ver. Adroaldo Corrêa citou bem, rememorando a história desta reunião. Mas eu devo acrescentar que nós não estamos fazendo isso apenas por um pedido do Comitê Brasileiro pela Anistia, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa; nós estamos fazendo realizar este ato – singelo, é verdade, mas com uma densidade política muito profunda – por um dever de consciência da cidadania.

Este primeiro aniversário da descoberta da Vala de Perus, em São Paulo, enseja uma reflexão muito profunda sobre o que aconteceu neste País durante mais de 20 anos, o que está relacionado não só com os acontecimentos internos, mas também com outros acontecimentos do mundo, que também nos dizem respeito. O que nós pretendemos demonstrar com este ato é que não se pode esquecer o que houve, como muita gente está pretendendo. Não se passa uma esponja no passado, principalmente num passado tão negro como este que nós vivemos. É preciso que se revolva essa história, porque há muitos fatos ainda a serem apurados, e há muita gente comprometida com este passado que anda passeando impunemente pelas ruas do nosso País e rindo do nosso desespero. Existem hoje, ainda, 146 pessoas desaparecidas neste País, cujo paradeiro não se sabe. Se presume, se pode presumir que   estejam mortos. Agora, quem cometeu estes crimes? É isso que cabe apurar, e existem caminhos para essa apuração.

A Universidade de Campinas está realizando um trabalho científico de alta expressão, procurando identificar através de processos modernos as ossadas que estão à disposição dos cientistas, para se averiguar exatamente a quem pertenceram, para identificar os corpos lá enterrados. Por enquanto, apenas alguns foram identificados, mas é um trabalho contínuo, e nós devemos apoiar esse trabalho, porque é a parte dolorosa deste País, que precisa ser contada, precisa ser conhecida. Eu não gostaria de falar, mas a condição de colunista me leva a esse caminho, porque foram tantos os cidadãos brasileiros que foram mortos, torturados, castigados, desaparecidos, e não só os do Partido Comunista Brasileiro. Mas eu devo dizer que quase dois terços do Comitê Central do PCB foi dizimado pelas forças repressivas entre os anos de 1974 e 1976. Hoje, ainda existem dez companheiros do Comitê Central daquela época cujo paradeiro é desconhecido. São eles: Davi Capristano da Costa, Heran de Lima Pereira, João Macena Melo, José Roman, Valter de Souza Ribeiro, Nestor Veras, Jaime Amorim Miranda – cujo irmão está ali sentado –, Luiz Inácio Maranhão Filho, Orlando Rosa Bonfim Junior e Elcio Costa. Também se encontra desaparecido o encarregado da juventude junto ao Comitê Central, José Montenegro de Lima, além de muitos outros militantes do Partido. 

Por isso, companheiros, esta Sessão tem um significado muito grande, porque os crimes neste País ainda continuam, apesar de tudo que aconteceu que estamos tentando desvendar, ainda continuam sendo praticados esses mesmos crimes. Os mesmos e mais outros, porque agora o crime tomou uma outra direção: não são mais só os assassinatos políticos. Agora, assassinam crianças indefesas, anciãos, camponeses, trabalhadores. É isso que precisa ser levantado. E o que pedimos, num dia como hoje, como medida imediata? Que os arquivos do DOPS sejam tornados públicos, sejam incorporados ao Arquivo Público e que cada cidadão tenha direito de acesso ao que lá consta a seu respeito. Porque não nos enganemos, o famigerado DOPS – ou que outro nome tenha – continua existindo na nossa sociedade. No regulamento, no organograma, da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, o DOPS foi diluído em vários setores. Ele deixou de existir formalmente, mas a sua ação nefasta ainda continua. A espionagem da vida do cidadão continua existindo. Com que fins? Nós pretendemos que essa etapa negra da nossa história tenha sido ultrapassada, mas quem pode prever que numa mente doentia não persista a idéia de que um dia ainda se possa vir a necessitar dessas anotações para uma outra tentativa de sufocação da liberdade?

Por isso, este ato deve significar isto para todos nós, para que esses acontecimentos não se repitam. A história deve servir de exemplo não para que se repita, mas para que não se processem métodos já ultrapassados. Por isso, companheiros, é com profundo agradecimento pela presença de todos aqui que deixamos a tribuna, lembrando que este dia é um dia de lembranças, de amargas lembranças, e que deve ser ampliado a toda a população, para que não se repita nunca mais. Porque o País, hoje, está atravessando uma hora muito difícil, e não se duvida que algum maluco não esteja alimentando, justamente, novas expectativas de se reviver o que estamos condenando e desejando que nunca mais aconteça. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao companheiro Deputado Antonio Marangon, Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.

 

O SR. ANTONIO MARANGON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, representantes dos familiares de mortos desaparecidos, representando do Comitê Brasileiro pela Anistia, inicialmente, queria deixar registrado que a nossa presença aqui tem o sentido de trazer a solidariedade da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia para a importância do que está acontecendo aqui na Câmara de Vereadores, e também pelo que acontecerá pela tarde, pela noite aqui em Porto Alegre, na Assembléia, no Palácio, passado um ano da descoberta, da abertura da Vala de Perus, cemitério clandestino. 

Sem dúvida, o dia de hoje tem dois significados. O primeiro deles, profundo, é que precisamos reavivar a memória nacional, do nosso povo, da nossa gente, sobre uma época onde censuraram, mataram, prenderam, consumiram, e reavivar que os torturadores, aqueles que isso fizeram, estão por aí impunes, e muitos deles na ativa, protegidos por cargos que lhes dão autoridade para falar em corrupção e tantas coisas. Este é o primeiro significado. Eu gostaria, dentro deste primeiro significado, de colocar que, agora às 17h – e aí se está estendendo este convite, que já foi feito anteriormente; aproveitamos a oportunidade para renovar o mesmo –, vamos até o Sr. Governador do Estado solicitar que o restante do arquivo do DOPS seja aberto aqui no Estado, porque, pela imprensa, soubemos que ele foi queimado pelo ex-Governador Amaral de Souza. Uma parte, mas logo depois começaram a aparecer fichas. Então, que queimadura foi esta? Está ou não micro-filmado? Nós queremos saber. Então, vamos pedir ao Governador para que ele possa passar para o domínio público, onde todos os interessados, familiares, historiadores, nós todos, cidadãos, quando quisermos saber o que constava sobre a sua vida, o que ele fazia, que se possam ver essas fichas. Então, às 17h estaremos fazendo isso. E, às 20h, a Comissão de Direitos Humanos faz uma Sessão Extraordinária na Assembléia Legislativa, com a presença do Nei Lisboa, da Suzana Lisboa; com a presença já confirmada do Chefe de Gabinete da Luiza Erundina, do Alípio Cazalli. Inicialmente, tínhamos a presença da Prefeita, mas, como hoje se realiza um ato como este em São Paulo, de aniversário de abertura da Vala, ela não pode estar presente. Este é o primeiro significado.

Então, esses crimes que foram cometidos no passado pairam e continuam perigosamente nos ameaçando no presente, e isso é uma coisa que precisamos cada vez mais alertar a nossa população. Hoje estão acontecendo coisas que dá para colocar no nível do que aconteceu no período do regime militar. É do conhecimento de todos, nós temos hoje, aqui no Rio Grande, quatro companheiros presos, que, do nosso ponto de vista, são presos políticos, porque estão presos ilegalmente. E o motivo da prisão é que eles lutam pela Reforma Agrária. Ora, que crime é esse, lutar a favor da Reforma Agrária? É crime? Eles estão presos. Todas as evidências jurídicas legais estão dadas de que não foram eles os autores da morte do Soldado Valdeci, mas eles continuam no Presídio Central. Para nós, isso é uma prisão política.

A nível nacional, lá no Estado do Pará, aconteceu agora, há questão de dois meses, um mês e meio, a prisão de sete agricultores. Foram presos em sua própria residência, e a Polícia Federal efetuou a prisão e deu como justificativa que eram perigosos, subversivos e que estariam realizando uma guerrilha lá naquele Estado. A prisão em flagrante, o que é que demonstrou? Eles possuíam mapas do seu Estado. É um material subversivo; portanto, todos nós temos que ter cuidado! Se tivermos um mapa do Rio Grande em casa, e o Romeu Tuma nos visitar, já é um material subversivo, na visão dele. Foi encontrado com esses agricultores um levantamento sobre o custo de produção, eles estavam fazendo uma lavoura coletiva e estavam fazendo os cálculos. Isso que eles recolheram como material subversivo. Foi encontrado também, na presença deles, um documento que fazia uma análise da conjuntura socioeconômica do seu Estado, como é obrigação de todo cidadão militante ter, para saber como é que funciona a conjuntura. Pois bem, foram presos, e o mais grave que o Tuma encontrou, este depoimento está gravado no Congresso Nacional, na Comissão que está investigando a questão da violência no Brasil, diz o seguinte: “Eles estão sendo treinados em Cuba para fazer guerrilhas.”, e o que encontraram em poder deles era um diploma de técnico agrícola que eles conseguiram fazer em Cuba. Se esse diploma tivesse vindo dos Estados Unidos, era motivo de elogios; como veio de Cuba, é uma coisa perigosa. Aí, o Romeu Tuma teve que se desculpar, o Itamaraty pediu desculpas à Embaixada Cubana, só que, apesar das desculpas do Tuma e do Itamaraty ao Governo Cubano, esses agricultores continuam presos.

Eu vou dar um outro fato que aconteceu agora, questão de um mês depois de um encontro nacional de lideranças do Movimento Sem Terra. Do Norte, estavam voltando, e, quando passavam por Mato Grosso, num posto da Polícia Federal, o ônibus dele foi detido. Aí, a Polícia entrou e colocou para os passageiros: “Esse ônibus está com perigo de ser seqüestrado, nós temos aqui o nome de nove pessoas que são possíveis seqüestradores.”; daí, passou a ler os nomes um por um. Por coincidência, os nove que queriam seqüestrar o ônibus, segundo a Polícia Federal, eram os nove agricultores, lideranças que voltavam de um encontro nacional que estavam fazendo. Permaneceram por 24 horas presos, perderam a passagem, não se encontrou nada do motivo da prisão.

Isso está acontecendo hoje, e o Tuma afirma – para nós termos claro que essas questões do passado estão presentes – que a Polícia Federal está assim, no encalço do Movimento Sem Terra, de sua liderança, e não é só do movimento, eu dou como exemplo porque são fatos concretos, mas eles estão no encalço de todo mundo ainda hoje por esses artigos. Essas coisas têm que vir a público, porque o Estado, hoje, que é chamado “de direito”, não o é. Na verdade, as nossas lideranças já não sabem se embarcam hoje num ônibus em Porto Alegre e chegam a São Paulo, ou se embarcam em São Paulo e chegam ao Nordeste, porque estão sendo presos. Agora, em Bagé, tivemos um Juiz corajoso: pela segunda vez, não afastou o pedido de dois promotores deslocados para Bagé, pedindo a prisão preventiva, também, em torno de sete agricultores, acusando da morte de seu próprio colega no episódio da Fazenda São Pedro, onde de dentro da Fazenda, onde tinham sete brigadianos, vários proprietários e gente da UDR, matou-se um agricultor. Aí, os promotores pediram a prisão preventiva de sete agricultores com a acusação de que eles teriam matado o próprio colega. Isso aconteceu aquela vez em São Paulo quando o próprio Brossard veio a público dizer que Deputados do nosso Partido teriam matado trabalhadores. E só depois, muito depois, se desmentiam, mas a notícia não teve essa repercussão. Então, esse Estado de direito é aparente; nós precisamos denunciar isso.

Por isso, o dia de hoje, ele tem uma importância, um significado profundo: nós precisamos mais do que nunca juntar todas as forças democráticas, as entidades que lutam pela vida, para que a gente possa, além de recuperar tudo que se tentou e se tenta enterrar do que se fez contra o nosso povo, nós temos que ter presente o que está se fazendo hoje com o nosso povo. Se a gente não fizer essa corrente, esse esforço conjunto, eu não tenho dúvidas de que teremos muito mais gente nas prisões, como tem aqui em Porto Alegre quatro, e, em outros estados, outras pessoas. Logo, logo, nossos dirigentes sindicais de outras áreas começarão também a ter que responder processos por exercerem os seus direitos democráticos. Por isso, a importância do dia de hoje.

Eu queria agradecer o espaço que a gente teve aqui e aproveitar para reforçar o convite para hoje à tarde, com o Governador, às 17h, e à noite, no Plenarinho da Assembléia, onde estaremos fazendo uma Sessão Extraordinária da Comissão Especial, com a presença de familiares de desaparecidos e mortos, para que a gente possa marcar este dia com um ato forte onde nos levantaremos contra o que já foi feito e contra o que se está fazendo. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós colocamos a palavra à disposição das lideranças partidárias e de entidades que queiram se manifestar a partir de agora.

Registramos a presença do Ver. Clovis Ilgenfritz, Líder do Partido dos Trabalhadores aqui na Casa.

Com a palavra o companheiro Raul Carrion, do PCdoB.

 

O SR. RAUL CARRION: Em primeiro lugar, nós queríamos saudar esta Casa e os Vereadores Adroaldo Corrêa e Lauro Hagemann, que propiciaram este importante ato de denúncia de tudo que passou e também de afirmação militante da nossa luta contra essa situação que também hoje vivemos. Nós, do PCdoB, um Partido que deu um grande tributo de sangue e de dor nessa luta contra a ditadura, não poderíamos estar alheios a este ato. Nosso Partido contabiliza mais de cem assassinatos pelo regime militar e milhares de presos, torturados e exilados.

Nos chegou ontem o jornal “A Classe Operária”, dizendo da descoberta, no Cemitério Ricardo de Albuquerque, no Rio de Janeiro, nesses dias, de treze corpos de presos políticos assassinados enterrados como indigentes, entre eles nosso dirigente nacional, Luiz Guilhardini, assassinado em 1982. Soma-se a Perus, agora, um novo cemitério de perseguidos do regime militar. Mesmo terminada a ditadura, seguem-se os assassinatos, como o de Chico Mendes, do PT; João Batista, do PSB; Expedito Pereira, Canutto, Fonteles. Lideranças políticas, principalmente vinculadas ao campo, demonstrando também com esse exemplo como a luta contra a repressão, contra os assassinatos políticos, prossegue. Mudou o grau, mas segue, porque enquanto seguir este regime de exploração, de opressão do povo, seguirá a luta dos trabalhadores, da classe operária, pela liberdade.

Ainda recentemente, também, no nosso programa nacional, anotava o último documento da Escola Superior de Guerra, onde foi lido um pequeno trecho, onde os militares estudam o uso do Exército para enfrentarem, segundo eles, os menores abandonados, os marginais que ameaçam a ordem e a segurança do nosso País. Outros trechos desse documento, ainda estivemos estudando, nesta segunda-feira, na reunião da Executiva, são claros chamamentos à possibilidade, diante da crise social, política que se avizinha no horizonte do nosso País com a desmoralização do Governo Collor de Mello, e nesse documento, em diversos trechos, é colocada a possibilidade de as Forças Armadas serem novamente chamadas para garantir a ordem e a paz no nosso País. Conhecemos a paz a que eles se referem: a paz dos cemitérios!

Gostaríamos de dizer que este ato é também uma resposta que nos leva a refletir sobre essa grande onda da mídia capitalista – e mesmo imperialista – que se apresenta hoje. Arvoram-se como os grandes democratas. É bom lembrar que estes que tecem tantas loas ao capitalismo democrático liberal são os mesmos: o mesmo regime que sustentou o nazismo, os fornos crematórios, que levou a humanidade a duas Guerras Mundiais, que sustenta o racismo, sustenta ditaduras sanguinárias – Batista, Médici, Fidel, os Dan Mitriones no Uruguai –, que massacrou os povos do Vietnã, e assim por diante. E hoje, num passe de mágica, apresentam-se como os campeões da liberdade, da democracia, como se o capitalismo fosse realmente um regime onde a liberdade brotasse ao natural. Os 21 anos que passou o Brasil, que nós vivemos tudo isso, os anos que vivemos hoje, assassinatos de lideranças mostram o que é a liberdade, o que é a democracia sob o capitalismo. Poderiam dizer, mas isso, talvez, naqueles países subdesenvolvidos não chegou ainda o espírito da Revolução Francesa, tão badalada hoje por tantos ex-esquerdistas que capitulam sob a pressão da burguesia e dos ideólogos. Olhemos então a tão democrática Alemanha, de bom, e tomemos conhecimento que lá, tão democrática, é vedado aos comunistas a profissão de professor, de funcionário público, de magistrado. Olhemos a bela democracia americana, onde, na verdade, o povo, grande parte alheio ao processo político, até deve escolher entre dois magnatas o que dirigirá nos próximos anos. Interessante notar que os democratas, capitalistas, burgueses que tanto defendem a liberdade partidária, a liberdade de imprensa, aplaudem, hoje, na União Soviética, o fechamento do Partido, que, no nosso entender, já havia degenerado há muito tempo. Aplaudem o fechamento do Jornal, que, no nosso entender, também há muito deixava de ser um jornal comunista: proíbe aos trabalhadores a organização no seu local de trabalho. E isso tudo é apresentado como a vitória da democracia, a hipócrita vitória da democracia.

Nós, do PCdoB, é notório e público, há mais de trinta anos questionávamos o processo dito socialista na União Soviética e no Leste Europeu, onde, afirmávamos, para surpresa de muitos, que o socialismo vinha sendo abandonado. E não entendemos que esse processo que hoje se dá seja, agora, o fim do socialismo. Entendemos que é um desfecho, mas, mesmo considerando isso, torna-se clara a hipocrisia, a falsidade dos democratas imperialistas, que aplaudem o fechamento de partidos, aplaudem o fechamento de jornais, aplaudem a proibição da organização da classe operária nos seus locais de trabalho.

Por tudo isso, companheiros, companheiras, reiteramos a oportunidade, a importância deste ato de hoje. Reafirmamos a nossa convicção de que a verdadeira liberdade, a democracia para a classe operária, para os trabalhadores, só existirá com o socialismo. Nos solidarizamos com a exigência de que os arquivos da ditadura – do DOPS, pelo qual tivemos que passar, assim como a UBAM, que também passamos, com toda sua vicissitude –, que esses arquivos sejam públicos, porque, como já foi dito aqui, só os ingênuos acreditam que eles foram queimados pelo Governador Amaral de Souza. Todos nós sabemos que aí estão. Não os tememos. Quem os teme são eles, por isso nós os queremos, por isso eles os escondem. Nós queremos que seja trazida à luz do sol toda a barbaridade, toda a violência, toda a desumanidade desses falsos democratas que hoje, como muito bem foi dito, ocupam importantes postos; dirigem, até, este País. Um deles é o Tuma, vem daquela época. Portanto, é o mais normal do mundo os fatos aqui relatados.

E, mais uma vez, agradecemos esta oportunidade ao nosso Partido, o PCdoB, para nós o glorioso Partido Comunista do Brasil, criado em 1922, legalizado, reorganizado em 1945, e mais recentemente reorganizado em 1962. Partido que mantém, frente a toda essa pressão capitalista, burguesa, levanta a sua bandeira, em defesa do socialismo, pois não arria a sua bandeira de defesa da revolução, não arria a sua bandeira de defesa do marxismo, de defesa de uma transformação social profunda no nosso País, no rumo do socialismo. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Ver. Lauro Hagemann que assuma a presidência dos trabalhos, pois este Vereador assumiu compromissos para este horário, tendo em vista que o Sr. Prefeito viaja para São Paulo.

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann - às 11h12min): Está com a palavra o Sr. Glênio Argemi.

 

O SR. GLÊNIO ARGEMI: Companheiro Presidente, companheiro Deputado Antonio Marangon, companheiro Raul Carrion, companheiro Adroaldo Corrêa, companheiro José Valdir, companheiro Álvaro Ayala, companheiros e companheiras. Não é do meu feitio ler as minhas intervenções, mas é que este momento nos toca muito, e, para não ser traído pelas emoções, prefiro ler um trecho.

O fundamental é que as idéias não se matam. Aqui nesta sala estão alguns dos que sobreviveram, e sobreviveram a uma das mais negras páginas da história brasileira, de maldade, de perversidade, de morbidez e coisas deste estilo. Claro que não estou, aqui, a falar em meu nome pessoal. Estou a falar em nome do PSB, do Partido Socialista Brasileiro, mas as idéias não se matam. Na nossa concepção e na luta das idéias, nós temos que ser inflexíveis, no debate, mas temos que ser magnânimos na vitória. Ao Lauro Hagemann, ao Adroaldo Corrêa, ao Ayala, ao Daudt, a outros companheiros, não nos anima a vingança, não nos anima o ódio.

Hoje, que os nossos cabelos já estão branqueando e que já estamos um pouco mais domesticados pelo protocolo, que já não somos aqueles jovens que defenderam o monopólio estatal do petróleo, a Petrobras, que já não somos aqueles jovens que iam às ruas para mandar nossas tropas a lutar contra o nazi-fascismo na Europa. Hoje nós estamos mais calejados, bem mais emotivos, claro, a idade começa a pesar, e por aí se vai. Mas nós não vamos deixar de dizer algumas coisas aqui. Claro que nós não vamos dizer tudo como diria Ortega y Gasset, porque é muita pretensão, mas aqui nesta Casa, mais uma vez, nós vamos deixar nossa marca do que nós defendemos, porque esses corneteiros que andam por aí, eles não podem dizer “olha, nós fomos enganados, nos conversaram, nos deram uma volta”. Não.

Então, eu passo a ler um texto. Aliás, está muito em moda, hoje, um verbo: privatizar. É um tal de privatização pela direita, pela esquerda, e meta privatização, e por aí se vai, e tenho a impressão de que o nosso País não está muito democrático. Mais adequado seria isso: é uma “latrinocracia”, de latrina, porque como fede! Olha a corrupção da Primeira-Dama, olha o tira dente, o bota dente e outros rebuliços mais, porque está-se vivendo uma “latrinocracia”. O texto é o seguinte, companheiros (Lê.).

“Conservadores estão encantados com uma ladainha ideológica que já virou modismo na imprensa: ‘o socialismo fracassou, o Leste Europeu abjura doutrinas Marxistas, derruba estátua revolucionária e abre as portas à propriedade privada’. Essas notícias soam como cantiga de ninar aos ouvidos da direita, das oligarquias rurais, de grupos empresariais, de financistas e especuladores, de comerciantes gananciosos e de representantes de todos eles em muitos legislativos. O socialismo, sem dúvida, atravessa o maior desafio histórico desde seu surgimento. Como teoria, discute a sua viabilidade prática, e agora este debate exige aprofundamento político, econômico e doutrinário. Há os que proclamam que os acontecimentos do Leste Europeu comprovam a dinâmica do socialismo e sua vitalidade; outros, ingênuos ou alienados, simplesmente alegam que aquele regime não era socialista de verdade e, portanto, a crise não é do socialismo em si. Mas o conceito de democracia implica, além das liberdades políticas que se dizem consagradas a partir liberalismo e da Revolução Francesa, a realização da justiça e da igualdade.”

Eu resolvi colocar esse trecho, companheiros e companheiras, invertendo aquilo que disse o Ver. Lauro Hagemann, o Ver. Adroaldo Corrêa, o Marangon, e o que disse o Raul. Mas o fundamental, neste momento, é que aqui estão alguns dos sobreviventes, como lá fora há outros, e nós entendemos que esses companheiros que foram assassinados, que foram torturados, que foram mortos, por certo gostariam que nós todos aqui presentes fizéssemos uma afirmação de princípios. Em matéria de princípios, o nosso primeiro princípio é defender os princípios. No caso, os princípios sociais. Nenhum de nós é pessoa de bravatas. Nós somos mais valentes do que queríamos, mas, como é sabido, muitos desapareceram, outros ficaram, outros vão desaparecer, outros vão ficar. É o processo dialético do conhecimento dentro do mundo, porque as idéias não se matam. Nós não estamos atiçando as labaredas, nós não estamos brincando com fogo, nós não estamos provocando ninguém. Nós estamos defendendo idéias. Mais que idéias, nós estamos defendendo princípios. Mas já ficou provado que alguns morreram e que outros sobreviveram, de modo que é bom não atiçar as labaredas. Na medida em que as labaredas forem atiçadas, a nossa posição é bem clara e definida. Nos combates, nós seremos como ontem, inflexíveis; e na vitória nós seremos magnânimos. Para que não haja dúvida e que não se diga que nos enganaram mais uma vez: grandes acontecimentos históricos estão para ocorrer na América Latina e particularmente no Brasil. E aqui, na história do Rio Grande, há muito tempo foi dito que há tipos de jornadas como essa em que vamos entrar, que me referi, que a gente volta com honra ou não volta nunca mais. Nessa, muitos companheiros voltarão com honra, como é de nosso feitio.

Companheiro Presidente, companheiros e companheiras, o Partido Socialista agradece a lembrança e a atenção com que sempre foi distinguido nesta Casa que quer grifar, de uma maneira bem grifada, a lembrança do companheiro Adroaldo e do companheiro Lauro Hagemann para este fato, que muitas vezes pode até passar despercebido, e de outros Vereadores, é muito importante. É assim que a gente mantém a memória. Finalizo: grandes acontecimentos estão para ocorrer, a nosso juízo, particularmente no Brasil. Mais uma vez daremos a nossa resposta, como já demos em outras oportunidades. Muito agradecido.

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: A Mesa continua colocando à disposição do Plenário a palavra. (Pausa.) Não havendo quem queira fazer uso da palavra, nós vamos dar por encerrada esta singela Sessão, destinada a assinalar o primeiro ano do descobrimento da Vala de Perus, em São Paulo, com os desaparecidos no tempo da ditadura militar. Agradecemos a presença do Deputado Antonio Marangon; dos representantes partidários Hilário Pinha, do PCB; Glênio Argemi, do PSB; Raul Carrion, do PCdoB; Ver. José Valdir, do PT; e de todos os dirigentes comunitários e demais Vereadores que vieram lembrar conosco esse triste episódio. Muito obrigado.

 

 

(Levanta-se a Sessão às 11h26min.)

 

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